quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Hale-bopp (4385)

Vieste como um astro,
do espaço onde vive, entre estrelas.
Ainda que mais qualquer uma destas seja.
Tendo em vista que para tal, somente seja.

Me vi encantado pelo teu rastro,
entrei em estado contemplativo.
E tenho andado um tanto cativo dessa ideia.
Com a mente em alucinante estado, algo como apaixonado.

Quis poder arriscar uma carona na tua cauda,
onde a vida encontraria sentido em todo seu perigo.
Encontrei o teu brilho no frio distante da estrela que é você pra mim.
Ainda assim sei que a sua luz jamais se vai enquanto, aos olhos, te sigo.

Acabo por quedar aqui ainda a contemplar 
enquanto o mundo não termina de girar.
Quedo na agonizante esperança de ao fim de todos estes sempres,
no teu rastro poder te encontrar para que nada eu te prometa.


Carlos Fernando Rodrigues

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Descomplexo (Eu não sei ser simples)

     "Antes de tudo, isto não é uma confissão (cof, cof). Portanto, qualquer semelhança dos fatos a seguir, com a realidade, é mero maquiavelismo do autor."
      Complexidade sempre foi uma das minhas palavras favoritas. Seja pelo conceito simples o qual representa, seja por representar esse mesmo conceito em sua verbalização. Sempre está ao meu alcance algo que eu consigo denominar como complexo, e caso não esteja trato logo de dessimplificar para tornar pouco mais interessante. Assim como para a maioria das pessoas, nada para mim é mais agradável do que a sensação de se sentir especial, muito embora saiba que sensações e verdades possuem entre si uma relação inconstante o suficiente para não se referirem uma à outra necessariamente. Ambas são mutáveis, exceto a verdade de que não existe verdade absoluta e a sensação de que sentir é inevitável. O quão elas podem se tornar reais é subjetivo portanto, ainda que muitos digam que há consenso em termos de princípios.
         Por assim serem as coisas que nos apresentam a realidade, o que de fato é real é somente um conjunto enorme de acasos e ocasos aprisionados em um ciclo infindável de divisões, racionais ou não, que quanto menores e mais simples, mais fundamentais para determinar o infinito. Verdade e sensação permeiam por entre cada uma dessas divisões e se diluem cada vez mais distantes e distorcidas de acordo com as novas formas nas quais se encontram. Não há tangibilidade comparável a ponto de tornar este um conceito mais compreensível, pois o próprio espaço-tempo em que vivemos o presente, nesse momento, já não existe senão pela capacidade do cérebro humano de abstraí-lo como sendo. E isso é complexo, pois se trata da mais simples realidade.
      Aceitar simplesmente o que nos é colocado como sendo, desnatura a capacidade humana de ser racional. Simplificar somente por crer na própria incapacidade ou na superioridade nata ou daquilo que nos é improvável, é acomodar-se em uma vida ainda selvagem se não literalmente, de práticas tão instintivas quanto em um modo geral, quando não, cruéis. Obviamente, não se trata de uma definição absoluta, assim como a sensação é passageira. Tudo isso serve para desviarmos do caminho, o que soa um tanto mais agradável à minha insatisfação real. Para isso, há milênios que nos esgueiramos na vida em busca do pleno. Verdade ou sensação. Enquanto a chama acende, a ideia descreve a realidade buscada.
          Complexidade é a palavra que coloco à minha vista para se ver, mas não necessariamente o sou. Haja visto tanta prolixidade, sou tão simples quanto o mais simples dos curiosos, Cobiço conhecer o tangível, sensível e verdadeiro, muito embora seja o mais platônico de mim. Intraduzível, se não, nas entrelinhas de imagens, que para quem sabe ler, despistam mágoas. Ao veio da janela da alma correm as águas que na realidade escondem, a despeito do que deveriam, sem saber que respeito e medo não se acalmam, senão por calma. O complexo, hoje, há tempos já foi simples. Uma realidade sem graça, jamais ingrata. Mas nada está em absoluto, embora o escuro pareça. Daqui, a vida só corre pra lá. Não é simples. Por natureza é fundamentalmente um caso real de ser pós ou descomplexo.

Carlos Fernando Rodrigues

P.S.: Ser lúdico ao querer e discreto ao falar, sobre tempos e leituras que a realidade desfaz, ela própria refaz ao vento quão logo for preciso. Brisa ou sopro leve de real sensação descomplica a força desse imprevisível furacão. Ao final, ar são duas letras impossíveis de se prender nas mãos e indispensáveis ao nosso ver para saber o que de fato é viver.

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Burburinho

Sobretudo, onde sobram dúvidas...

Eu sou.
Nós, talvez, quase somos.
Desde a primeira vez, sempre fomos assim.
Pois ainda seríamos não fosse a vida finda ao fim.

Idealistas e materialistas confundiriam-se aqui.
Não há finalidade quando se tem o presente, e o presente não se tem.
É o agora imperfeito, mas mais um passo, é além de ti.
Temor e medo são futuros pois prevejo culpa quando passado.

Ao passar, inerte ou forte, o presente corre para a morte.
Isento de agora, onde o tempo mora, ele inexiste enfim.
Ora, mas é agora, entre passado e futuro, não outro.
Inexiste presente tal como o fim.

Dessa tal forma, nada seria bom, tampouco ruim. Digo assim:
Só existe o que inexiste, tal luz,
no interminável escuro de mim.

Não tendo fundamento que valha ou filosofia que não seja falha,
meu pensamento não se cala.
Para minha apatia faço sala, desejo no fim, o enfim, ou o só.

Permaneço seguramente inseguro.
Perduro ocupando tempo-espaço desperdiçado
enquanto demais problemas humanas se limitam entre o ar e o condicionado.
Muita rinite, azia e hipocrisia.

Eu que só queria ser meu não sei nem mesmo se assim como estou, realmente sou.
De outra forma, não sou.
E os decibéis aumentam proporcionalmente aos imbecis.
Embora somente e apenas haja silêncio em mim, não me desconto.

Não entroso o ecôo, mas escoro esse receptáculo de ocaso.
Sem qualquer forma de escrúpulo, digo que nascer foi meu crepúsculo.
É agora, presente e fim.
Foi passado e é futuro.

Embora tenha transcrito escuro, e nisso haja verdade, sou verso translúcido,
rascunho do ser que idealiza receber este presente em um bilhete assinado de próprio punho.
Desenho desletrado releitura de coisas puras e baseado em um achado.
Coisa que em mim impossível.
Coisa que afim, enfim seja provado.

Por Carlos Fernando Rodrigues

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Amenidades, afinidades e afins

A cada dia se alinha mais esta possível história.
A fina corda se afina em tons de meias, ou quase, notas.
A rima arruma triste uma escrita um tanto robótica.

Corre por mim em sonho distinto que sinto, não mais, vazio
instinto afim tal qual aflito, repercute, ao marcar seu ritmo.
Desavanço pois desavença há de vir, não sei se assim,
o quanto cresço ao ser intenso na calma para o seu ouvir.

Leio serenamente descrente retratos portados de imaginário.
Inventário inventado por vento e desenhos trocados.
Sobressalto de assalto que chega a querer fazer o que fiz
enquanto o que faria, indubitavelmente, tem a dúvida como uma atriz.

Refaço a cada sutil estilhaço o caco do meu habitual papel.
Garranchos e borrões em linhas confusas de almaço
incidem a cada novo traço de si uma luz em mim
como coisa velha ou nova de sentir logo no fim que, digo, não sigo.
Ou como seria consigo a novidade fosse, o verso, assim?


Por Carlos Fernando Rodrigues

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Supernova

Sempre fora silêncio obstante
no mais obscuro do azul cósmico
onde a vida sublima um instante.

Seu calor em obsolescência, aquiescia,
e o frio aqueceu quando novamente
do resto e nada, houve silêncio somente.

Ouve-se agora o tempo.
Houve o tempo em que o tempo passava,
embora agora entoe sua despedida desesperada.

Núcleo de espaço-tempo,
onde tempo não se passa e espaço não se ocupa.
Bolo ao forno denso de massa, dentro de casa.

Grave ao vácuo onde não graves, ou agudos.
Inquieto por ser viés de qualquer tudo
onde tudo no fim findará ao nada do escuro.

Por Carlos Fernando Rodrigues



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Ciudad Barbara (Buenos Aires)

Un o dos deseos de mi vida...
Un amor temprano y quedarme caminando,
pues nel más oscuro que me fué
pude mirar el ser más puro hecho en usted.

El físicamente, el qual dicen lejano, no existió
por la vez que nos sentimos, del viejo señor, cercano.
Sin medo estoy a escribir, sin mi innata dolor.
Cosa que solamente hizo por la fuerza de su amor.

Aunque creo estar de pasaje mientras hay felicidad,
desearía la permisión perenne de seguir usted
desde mi señora oscuridad, hasta la luminosa eternidad.

No sé si respira exactamente los mismos aires,
pero a mi se muestran más bellos en nuestro baile,
trayendo en ellos nuestra alegría por esas calles.

Sólo miramos que no hace falta la oscuridad en nuestros aires.
Me gustaría hablar aquí acerca usted una vida o más,
pero así siendo, no desearía otra en cual no tendría certeza
que ella me regalaría esta singularidad perfecta,
mirada en la simplicidad con la que puedo a ti amar.

Por Carlos Fernando Rodrigues 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Miúdos

      "A intensidade do bater de asas é uma das principais diferenças para definirmos a mosca e a borboleta." (Eu)

     Hoje eu senti vontade de escrever algo agradável, sutil, singelo e gostoso. Coisa qualquer que carregasse o ritmo de um trem e a simplicidade daquele outro eu que era moço. Me pego imaginando o quanto dias assim são raros. Ao menos assim consigo meu valor, completamente diferente do que se vê no mercado. Seco à sombra da chuva que me molhou os cachos, digo a todos que dizem querer ouvir o que penso para pensar sobre isso: "Dispenso". Pensar tem hora, sentir tem hora, qualquer trem na vida tem. Em um instante para o agora, posso até mudar e pensar um sol só pra esse troço. Não quero. Prefiro dispensar à pensar, deixar a chuva molhar, a água cair, a vida fluir...
       Falar de amor de novo poderia ser tão melhor aceito, bem vindo e notável para as pessoas. Mas quem disse que simplicidade simples não pode ser chamada de amor? A verdade, minha, é que qualquer sensação é uma manifestação deste. Podemos sentir o bem, o mal, o fraco, o intenso, o farto e o raro tendo-o como um alicerce irracional do que definido foi como sensitivo. Dessa forma, em qualquer de suas variedades, ele se faz indispensável à vida tal como a esse texto desatado e desregrado. Nos limitamos nesses termos e aspectos pelo fato exato de sermos racionais, sociais e conceituais. Só nos valemos e nos fazemos valer do que é intenso, estético e preferivelmente cinematográfico. Estabelecemos, para sentir, bases tão complexas que nem mesmo à ela a maioria de nós é capaz de chegar, e quando chega-se, chega. Parece desumano prosseguir, o suficiente para dizermos em absoluta e reconfortante hipocrisia que "é a vida". Particularmente, duvido que seja. Ainda que absolutamente descrente, creio no fundo, que as coisas podem ser simplesmente como a face da natureza nos mostra, e não como pensamos, afinal, pensar é a comodidade do ser humano. Alegamos, e sempre nos desculpamos por, pensar. Nunca por sentir. É o que julgamos como processo natural, a quem também culpamos por não sabermos lidar com a intensidade exigida na nossa autocomplexibilizada vida contemporânea. O que poderia ser algo bem pensado, não se tornasse um paradoxo atrelado à nossa resistência e inexperiência ao simples sentir. Sinceramente desconheço o ponto evolutivo onde intensidade se tornou sinônimo de felicidade que, coincidentemente ou não, além de um sentimento é absolutamente volátil e flexível. É querer chegar ao fim caminhando em direção ao início absoluto de tudo. Seria muita pretensão minha afirmar um lógico retrocesso biológico. E no desfecho, nos desapontamos por decepcionarmos ao sermos decepcionados.
      Ora, sentir a vida não é somente o intenso. Ou toda essa asneira seria um teatro pretenso. As miudezas também se sentem e para isso o são, numa grandeza que ignoramos por serem somente natureza. E debilmente, seres humanos que somos, nos orgulhamos disso na mesmíssima intensidade em que seguimos sendo ignorantes por natureza. Quando decidi pensar, não consigo lembrar quando quis todo esse asfalto, complexidade sentimental, velocidade e barulho. A verdade é que sempre quis poder escolher sentir. O ritmo, a terra, a chuva, o frio, o som. Somente queria sentir hoje. Ter em mim o suficiente para dispensar o que me faz dispersar de mim e ir. O faço, como iniciante mas, sim. Repasso, errante e errado, meu sentir a quem lê. Não pense que para isso tive que pensar. Acreditar nisso  certamente é desconhecer como gosto de escrever.

Carlos Fernando Rodrigues