quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Vida

     Um pouco mais e já estaria à beira da estrada, sem rumo, ou simplesmente, indo. Como foi um pouco menos, ainda estou aqui. Talvez não saiba até quando, mas sei bem porquê. É difícil se levantar para um dia que já nasce morto, não somente por ser domingo, mas também por ser solitário. A única mensagem recebida, provavelmente escrita com um esforço descomunal, abandonava-me. Mentiria se dissesse que por isso não esperava, mas ainda assim o sentimento era arrebatador. Tantas conversas sem fim, tantos encontros escondidos e ainda assim havia um desprezo explícito pelo que eu era capaz de fazer com o seu coração. Uma ingenuidade sem tamanho pensar que seres humanos ficam para apanhar. Não é natural. Nesse momento a mochila já estava ao pé da cama, cheia de sentimentos bons a serem semeados no desconhecido. Joguei-a sobre meu ombro e senti o peso da liberdade que me aguardava em algum lugar. Deixei três linhas de saudade para quem se interessasse.
      À porta, lembrei-me do chamado que vibrava insistentemente no bolso esquerdo da calça. Não queria que ninguém atrapalhasse esse momento. Era a minha vida que seguia comigo naquele momento. Já tinha me oferecido para colocá-la para caminhar junto, e ela não aceitara. Desprezara meu ser assim como sua capacidade. Eu estava só. Não era mais programado para ter alguém. O passado já não conseguia atingir meu ego. Agora éramos eu e a vida, somente. O mundo que nos preocupava, a cada passo firme, ficava mais distante. Aquelas pessoas ruidosas cheias de nada por falar, aquelas luzes que indicavam a escuridão, o modo automático e complexo de se viver… tudo aquilo parecia um outro planeta quando as casas rareavam, o ar mais puro invadia meus pulmões e a vida aflorava ao meu redor. Nenhuma vez no mundo poderia ter desejado companheira melhor do que ela. Era estar longe do mundo estando nele. Era como uma casa dessas de barro, chão de madeira lustrada que range, móveis antigos bem cuidados, quadros nas paredes e um grande relógio ao fundo da sala iluminado pelo sol da janela. Mas era também uma casinha de pau-a-pique, chão de terra batida e um fogão à lenha no canto. Podia ser a minha casa, a casa que eu quisesse ter.
      Em cada novo lugar, um novo destino. Já poderia ao longe vislumbrar o que me aguardava para fazer de mim um ser de casa e de passagem. A luz do sol incidia delicada sobre meus olhos, pela fresta de uma janela esquecida entreaberta. Cada grão de poeira que descia ou subia por ela poderia indicar uma pequena fragmentação de um sentimento extinto. A vida se tornava novamente a realidade excessiva e nauseante que sempre foi. Meu quarto não merecia aquele momento terrível de fim de ilusão. Meu consciente nesse momento se encontrava à alguns anos-luz de lá, e eu… Eu me encontrava em meio à selva escura e triste dos meus sonhos, como nunca antes, derrotados. Levantava-me para o mundo que não sabia de mim, nem eu dele, e ele me prendia sem compreensão de que eu não era dele, mas de mim. Mesmo que abandonado a própria sorte do meu ser inconsciente, ainda que estar assim fosse me encontrar acordado.

Por Carlos Fernando Rodrigues   S.S.D.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Um café e uma boa longa noite

      Era tarde, a chuva inundava a sombria luz crepuscular pelas janelas de vidro. A nossa volta a vida corria, escorria por dentre sonhos ignorados e vidas consumidas. Eu te olhava. No fundo dos seus olhos tentava encontrar o motivo daquele silêncio, não tão vazio quanto o burburinho a nossa volta. Me escondia atrás da xícara de café que você não quis a cada instante de hesitação. Não seria impossível nossa conversa, não fosse o medo. Infundado, infantil e invencível. Dentro da maior qualidade de casal, nosso maior defeito. Eu queria dizer, você queria responder, só não queríamos nos atacar de novo. Assim permanecemos e seguimos. Saímos para a chuva. Sentia aquela água gelada encharcando minha carne até os ossos, os carros levando cada peça do meu quebra-cabeça no vento, eu me desmontava ao seu lado. No fundo eu sei que posso me remontar quando quiser, mas por capricho ou destino, ou capricho do destino, queria que você o fizesse. Por isso deixei minha pecas fundamentais com você. Estava com você, debaixo de chuva e vento, internos e externos. Tinha ali a certeza absoluta que qualquer coisa pode passar se você estivesse do meu lado, e desejava como ninguém no mundo, que esse mesmo sentimento se apoderasse do coração da menina que me  fazia senti-lo.
      O silêncio insistia tanto quanto a memória. A vida se lia nos olhares tortos, na discussão calada e nas mãos nervosas. O diálogo entre nós não era no mesmo idioma. Eram momentos difíceis para nós, e as palavras, outrora tão companheiras, fugiam à mente com seus significados diferentes. Se escondiam nos gestos infundados e na reciprocidade de desfeitas. Pedia pra não te seguir e eu compreendia. Queria do fundo da minha alma te seguir, procurar, ir atrás mais uma vez. Minha consciência, ingênua, dizia que não. O porquê não estava claro, e inconsciente, fui. Corri, atravessei a avenida movimentada pela enxurrada atrás do seu vulto que se apresava em direção à porta e me esgueirei pelo vão antes de ela se fechar. Estava ali mais uma vez, onde antes, tantas vezes às escondidas já tinha estado. Quase como instinto, tornamos a voltar nosso olhar para o olho do outro. Agora era diferente. O hall escuro, a casa deserta e o frio lá fora. Toda a vida se resumia a nós naquele momento. Era estranho e enigmático como e porque, mas era bom. Como sempre. Era o fim de uma briga interna na qual brigávamos juntos. Aceitar era duro, mas era o que os dois estavam dispostos a enfrentar. Então fomos.
      O quarto trancado, a luz fraca e a cama quente. A chuva fustigava na janela e mais uma vez aquela conhecida sensação de estar em casa, mesmo estando apenas envolto no seu braço descoberto. A vida percorria nosso caminho e nós o dela. Talvez não fosse o melhor jeito de resolver, mas era nosso jeito. Todo sentimento bom aflorava quando estávamos ali, simplesmente vivendo um por perto do outro. Sem final surpreendente ou emocionante para os espectadores, sentíamos tudo o que nos fez estar ali naquela tarde de chuva a qual inundava a sombria luz crepuscular pelas janelas de vidro e fazia o mundo dos homens parecer banal perto daquilo que podemos alcançar.


Por Carlos Fernando Rodrigues    S.S.D.

sábado, 23 de novembro de 2013

O desenho no meu quarto

       "Um quarto de mim é sorte. Talvez pouco mais. O resto sou eu deitado no meu quarto. Eu querer ser resto é normal se ser todo for ser todo o mundo. Não sou. Não quero ser nem ter. É sorte. Ainda assim, estou ali, deitado com os três quartos de mim resplandecentemente pensantes e ociosos. Não devo nada à sorte, ela quem me deve as vezes que ela me falta. Geralmente é a maior parte delas."
        Abriu os olhos, ouviu a chuva e deixou de sonhar o dia em que o mundo não seria apenas sorte. Muitos diziam que aquilo não era sorte, era uma complicada variação de gestos e consequências que ser humano nenhum saberia deduzir quando, onde ou porque. Embora filósofos e cientistas tentassem incansavelmente, poderiam apenas supor. De uma forma ou de outra, para ele, aquilo era e sempre seria sorte.  Enquanto ela o guiava até a porta, recebeu o aviso de que talvez aquele dia, ela não estaria com ele. Aquilo não lhe era estranho, mas ainda assim seus três quartos de ser ficaram acuados por aquela mensagem. Se dele fosse tirada a única verdade que via em toda aquela insanidade mundana, a mentira não bastaria. Seria hora de ser parte daquela chuva que gelada castigava os infortunados como ele. O quarto o alentava. Ali poderia ser três quartos de si livremente e a vida só cobraria lá fora. Agora a sorte fazia sentir sua falta e a falta da sorte custava a melhor parte de si em destruição. Autodestruição ou não, ele nunca saberia.
         "A inconveniência da sorte excede os limites dos meus pensamentos. Onde ela quer me levar eu não sou. Esse mundo imundo já não cabe de tantos "eus". Querer mais nós em meio a isso parece pecado, loucura…"
        Quando seus pensamentos já haviam se perdido ao longe na falta de sorte e a chuva caía com ainda mais intensidade sobre a roseira do vizinho, aquela verdade o chamou. Gritava por socorro. Ele seria então capaz de socorrer algo tão variável e disforme. Algo que poderia ser tão mais confortável que seu quarto como também poderia ser isso uma mentira. Já se enganara outra vez. Tudo aquilo o crucificava. Parecia prestes a se sacrificar por algo que poderia transformá-lo em nada. Talvez único ser desperto em um raio de universos poderia se submeter àquela escuridão catastrófica para simplesmente não saber, se perder a procura de uma coisa que talvez nunca tenha estado ali. Estando isso muito além de seus três quartos de pensamento, bem próximo à sorte que lhe faltava, nada poderia fazer a não ser esperar que chegasse o dia em que ela viesse a ele, porém, talvez não devesse.
         "E se a loucura estiver a minha espreita em qualquer lugar do não ser, seria digno. Mas o mundo não suportaria não me prender a si. A sorte que me falha demonstra. Mas ainda assim, não almejo ser desses seres sortudos e rotineiros que morrem terrivelmente anônimos. A verdade não morre e não está no mundo ou na sorte, mas porque isso me atrai? Porque eu quero?"
       Pensou incontáveis vezes em abandonar seus quartos e quarto e sair a procura dessa tal verdade, quando se viu ao lado dela. Ela não era algo bom. Nem mesmo era algo ruim. Era algo sobre o que ele não tinha controle, mas que poderia fazer parte dela. Ela porém, nem mesmo era uma verdade. Não que fosse uma mentira, mas era inconsistente. Nessa hora, tudo fez sentido. A sorte não havia lhe faltado, ela o atraíra para dentro dela e o traíra sem seu quarto ou três quartos. Agora ele era preso a nada, quando agora nada, é o mundo. 

Por Carlos Fernando Rodrigues S.S.D.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Domingo, pela manhã. (duas semanas)

Infância que me passou como um raio
esteve tão longe quanto forte em mim.
Sendo assim, um corpo adulto, puto,
crendo ser essa persistência um insulto.

A volta do mar só tem sentido para casa.
Voar sem ter asas, caminhar ao acaso.
Querer estar completo, descarregado.
Simplesmente querer estar abraçado.

Há contudo um porem a se perguntar:
Se não há os braços que quero estar,
meu lugar, disfarço: está onde estou?
Vejo que em tudo, apenas sou. Bicho.

Não vou, nem fico. Aflito, afoito. Louco.
Por pouco, vejo a verdade cínica quando solto.
Volto pra casa, ideia vã pra me alegrar.
Te apertar, te amassar, te beijar, abraçar.

Volto domingo, pela manhã para te ver, te ter. Ser eu e você.

Por Carlos Fernando Rodrigues  S.S.D.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

15 de agosto

Noites que passam notadamente marcadas.
A vida que passa vagarosamente desvairada.
Cidade pequena, interiorana, mas minha.
Onde a rua se vê da janela e nela se caminha.

Longos eram os dias de 15 de agosto com meu irmão.
Molecagem, barulho, procissão e feriado.
Era dia de festa, era o dia da santa.
De dia corria para passar a noite vidrado.

Àquela época não chamava alguém por baby,
nem juraria amores a uma tal menina.
Onde não havia a maldade, onde hoje é melancolia.
Àquela época a vida era plena inocência.

Indecência era não assistir ao foguetório.
Aquilo tudo se fazia de encher os olhos.
Velho amor e seu desgosto,
me deixam saudades dos velhos '15 de agosto'.

Por Carlos Fernando Rodrigues   S.S.D.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Obituário

     Aos senhores, senhoras, senhoritas, jovens e crianças que venham a ler esta carta, antecipo-vos que nem tudo o que irão ler esta carta, antecipo-vos que nem tudo o que irão ler possa vir a ser de vosso agrado por não estar de acordo com a sua moral, pensamento ou idealizações vãs iniciadas a partir de uma visão, seja ela romântica ou realista da vida. Aqui estarão expressos pensamentos lógicos, contraditórios, vivos, mortos, livres, soltos e presos. Sendo assim, e sem a intenção de ser rude em momento algum, peço que só se pronuncie sobre o objeto de sua leitura se preciso for, independente de críticas positivas ou negativas.
     Sempre penso em começar um texto como esse com expressões formais clássicas, como aquelas de documentos, contratos e demais objetos que refletem a sistematização da vida pelo ser humano. Porém não creio que seria adequado mediante tamanha confusão mental, sentimental e orgânica do indivíduo que vos escreve. E apesar de minha notória e habitual prolixidade, tentarei me expressar por palavras mais simplórias, mas não garanto o sucesso dessa tentativa, assim como até hoje não garanti de nenhuma que tenha feito na vida, apesar do relativo acerto em algumas. Sem mais delongas explanatórias, vamos ao motivo propulsor desta inglória redação:
    Recentemente, algumas experiências, boas e ruins, me levaram a profundas reflexões sobre a essência do meu ser. Toda aquela balela psicológica e religiosa a partir de vagos momentos criaram lógica e sentidos nunca antes experimentados pelo meu esclarecido ser. Não digo do ser sensível, de impressões rasas, mas sim do meu âmago racional, talvez nem sempre presente, mas que ainda me pertence. Ele sim foi capaz de absorver as imposições da sensibilidade de forma com a qual o próprio não idealizava ser capaz. Apesar dessa virtude, rara em mim, não focarei o que chamarei por "isto" nela, e sim nas questões sensíveis que levaram à bancarrota do meu inflável ego.
      É lindo ser capaz de protestar. O protesto pelo protesto pode ter o resultado exatamente contrário quando não se sabe por que e contra o que protestar. Eu resolvi que queria lutar pelo amor. Uno, geral, pessoal, total. Escrevi para vários deles, expus-me para tantos outros e, na hora de lutar pelo meu, não alcei ao objetivo traçado e tive toda minha expectativa frustrada por valores consideravelmente menores que penetraram disfarçadamente nas entranhas da minha relação com este sentimento ébrio do ser humano e sua representação. Poderia descrever como, com quem e porquê, mas não creio que meu ser seja o primeiro nem o último a se sentir dessa forma, sendo que assim prefiro restringir minha intimidade aos "amigos". Chegando a este ponto, me permito dizer que o amor corroeu de forma dolorosa minha experiência sensível, porém é esse um dos principais defeitos da visão romântica da vida da qual ainda reluto em abrir mão, apesar de estar ciente da possível cagada monumental na qual esteja me metendo, para mais de uma vida.
      Como bem disse anteriormente, resolvi restringir minha intimidade aos meus amigos. Pessoas pelas quais senti amizade. Algo bem próximo do amor, porém mais sereno. Algo que deveria ter servido para acalmar os ânimos provocados pela droga amorosa, mas que em alguns isolados casos se revelou uma contra-indicação fortíssima, podendo potencializar os efeitos da primeira, causando sentimentos e ideias terríveis ao meu ser irracional e impulsivo.
   Minha tentativa a partir de então seria alcançar a paz interna, desintoxicando-me de amores e amizades falhos e talvez por este sentimento vocês agora estejam lendo essa canalização indevida de uma morte de um ex-ser. Não digo que por isso seja o fator exclusivo, mas foi de fato um cúmplice, como se em um trio o fizessem, apesar de sua culpabilidade ser comprovada como relativa neste caso.
      Dessa forma explicito as causas que levaram ao óbito de um famigerado eu, antigo e obsoleto ser voraz em seus amores, intensamente inocente em suas amizades e incapaz de ser pacífico consigo. E depois de tudo, ainda que exista eu, o que se seguirá será transmitido como bem de valor a quem quiser e se disponibilizar a pegar. Deixo posto a vocês meus amores, colocando de forma geral, meu amor. Não abro mão disso, mas ainda assim o terão aqueles que desejarem. A vocês que venham a querer, eu vos amo. Não desesperarei se ninguém o quiser, pois a porção a qual guardo pra mim é suficiente para que não me perca pela sua falta. Não estarei afobado se todos se manifestarem positivamente, pois ele é suficiente a todos, não saberia dizer quanto a qualificação. Aprendam sobre ele no meu passado e saibam que é falho, viva-o agora e experimentem sua plenitude, aguardem o futuro e ele ainda estará lá. Já não espero reciprocidade, mas aos bem aventurados, que o façam. As minhas amizades eu agradeço e também as deixo para quem necessite e quiser fazer proveito delas, como eu fiz, afinal, sempre fui meu maior amigo. Sem ofensas, mas fui a única presença que sempre me suportou. Ela estará aqui, mas ainda não sei se como a antiga. Ela é esguia, desconfiada, assustada e agressiva potencialmente ao ego. A paz que nunca tive ficará pelo caminho para que alguém a encontre. A minha se encontrará agora, ao fim dele. Ao fim disto que você ainda insiste em ler.
      Meu ser sensível, já não era sem tempo, esgotou-se. Apanhou, amou, foi amigo, desgastou-se, viajou, revelou-se, sofreu e enfim morreu. Já está morto há algum tempo, ser sensível insensivelmente mórbido. Vos escreve sem a menor propriedade. Utiliza-se da limitada capacidade do ser racional para se despedir, o sufoca para que não deixe meu único sensato adeus. Não se questione o que será deles, será vida e morte. Não chamaria por dor, amor, sorte ou amizade. Simples e significativamente será. Sendo assim e portanto, declaro pessoalmente e oficialmente o óbito destes dois incautos indivíduos. Que suas ausências sejam imediatamente supridas, não sentidas e suas experiências estejam disponíveis a quem as queira. Amo-vos ó amigos e amores em potencial. Vão em paz enquanto os carrego ao longo da eternidade.

Por Carlos Fernando Rodrigues   S.S.D.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Inconsciência

Persistência da memória, a qual aflige meu ego.
Insistência da pura interferência no meu eco.
Ressonante, dissonante, perversa.
Sem estar em meus pensamentos, sem pressa.
Ela espera, ao anoitecer, para minha sorte desfazer.

Na minha cama, ao meu lado, na minha frente.
Ela se faz presente, não está. Estão apenas palavras.
Ditas, desditas, descritas. Despista minha mente.
Seca, antes era úmida. Fria, antes era quente.

Intrépido, embarco em meu inconsciente.
Dislexo, embalo meu cérebro impotente.
Morbidez aparente, à minha frente, um encontro.
Como se estivesse pronto, vejo o que se sente.
Impossibilidade de materialização inerente.

Como era de se retornar ao passado, uma tarde.
Tarde triste da noite a encontro, às escuras.
Primeira, única, finalmente, incômoda… vez.
Sonho ou realidade, o inconsciente a florescer.

Por Carlos Fernando Rodrigues

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Fico

Quem me dera ser fadado à doce ingenuidade da loucura.
Não ser fardado de racional, puramente emocional, sem cura.
Perdura em meu ser o passado, que agora chega atrasado.
Sem qualquer ternura, meu próprio eu, para sempre me julgará culpado.
Desgraçado, não soube nem ser rechaçado, e fica aí parado.
Retardado, não soube ser amado, e agora está aí, desolado.
Qual inércia é mais cruel do que esta?
Me rouba de mim, me entrega assim, sem ao menos dominar o fim.
O quanto é cruel a vida, a qual já não me interessa.
Uma qualquer coisa que me testa, sem permissão ou razão.
Sem ação, apenas emoção, me defronto com a minha própria destruição.
Agoniza meu espírito, fere a si próprio feridas impróprias.
Já não há resto de mundo. Não há porque ter, que dirá viver.
Morrer em martirização de amor é belo, porém. indolor.
Eu fico. Parado. Encharcado. Abandonado. Derrotado.
Se é para a infelicidade total do coração, diga que eu fico.

Por Carlos Fernando Rodrigues

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Libertas

     Todo homem tende a nascer livre. Livre para viver o suficiente a ponto de se prender ao mundo. Toda e qualquer tentativa de fuga deste desígnio, seja ele social ou natural, é imediatamente rechaçada. Todo ser humano tende a nascer livre. Mas ele realmente se faz livre ou seria a liberdade uma utopia de seres encarcerados em uma natureza na qual são incapazes de se tornarem fugitivos?
     A ideia fundante da liberdade parte da independência, porém a independência humana nunca é plena, uma vez que somos mamíferos heterótrofos sexuados e sociais por excelência. Ainda assim almejamos a independência, e com ela, a liberdade. Ora, se não somos nem ao menos verdadeiramente independentes, como podemos vislumbrar a liberdade de nossos atos?
    A socialização humana é um processo há muito estudado, porém devido a complexidade e variabilidade de suas possibilidades, pouco se sabe o que leva o ser humano a se associar e principalmente se desassociar de outros. A explicação básica partiria de instintos e impulsos que dão uma ideia demasiadamente simplória para o presente contexto humano, entrelaçado em relações sociais cada vez mais complexas. Obviamente que a profundidade destas compete a cada indivíduo, mas seria essa ideia vaga nosso única parcela de liberdade?
      O apogeu de nossa liberdade é quando viemos a esse mundo, quando temos a oportunidade única de gritar e extrair tudo aquilo que nos aflige, ainda assim estamos submetidos a Ordem Natural nesse momento, a partir de então começamos a ser moldados dentro de nosso meio social. A sociedade de fato nos submete a processos para a formação de indivíduos coerentes a suas necessidades, o que simplifica a possibilidade de escolha, simplesmente por não termos escolha. Somos fruto do meio em que estamos inseridos e nossa única liberdade é a de escolher a que iremos nos prender.
      Sendo dessa forma, entramos aparentemente em um paradoxo que não prevê a libertação do ser. Porém, ainda inseridos nessa questão, notamos que a opção por determinada prisão pode ser benéfica, maléfica ou indiferente ao ser humano. A impossibilidade física da contenção dos nossos pensamentos faz com que esta seja talvez a única forma de se prender a algo que de fato o liberte. Este sim é capaz de nos tornar seres capazes de almejar a independência e a liberdade. Livre dos mecanismos perversos de dominação pelo capital, pela mídia, pelas drogas e até mesmo pelo pensamento alheio, a mente humana é plenamente capaz de se libertar sem limitações físicas e cognitivas. Liberte-se... ou dê a sorte de amar.

Por Carlos Fernando Rodrigues

terça-feira, 9 de julho de 2013

Apagar

Breve momento de ambição minha
teimar em escrever essa poesia.
Pressão interna que se externa
pra rimar qualquer coisa na pressa.
Como antes era a vida,
como antes era melancólica.
Uma coisa diabólica.
Uma qualquer coisa escorrida.

Ser somente reflexo de mundo,
o mundo inverso em verso,
o verdadeiro mundo de perto.
Incerto coração vagabundo.
sem sentido, à procura de teto
para ser um qualquer moribundo.

Graves pecados atenuantes para ser
quase ateu o pobre querer do ser.
Ambição de qualquer bondade por fazer,
e acabar lhe fazendo ler e crer
em uma bobagem qualquer que escrever.
Sem escrito, uma sentida a morrer.

Quase termino a duvidar do quando.
Será hora de acordar e acabar?
Chegar agora para poder partir.
Apagar a luz para não me confundir.
Humanas subversões de seres qualquer.
Seres discretos em particulares escuridões.

Por Carlos Fernando Rodrigues

sábado, 29 de junho de 2013

Diagnóstico

Mudança constante,
pelo amor ou pela dor.
Que amor é esse que causa dor?
Ou seria dor que se chama amor?
A dor gera loucura.
E a loucura já é
desesperadamente amor,
que assustadoramente é dor.
Cegueira e surdez são sintomas,
porém, voz e tato são somas.
Desesperadamente amor.
Ser humano discretamente.
Pele na pele que o repele,
o instiga o instinto, sem briga.
Discretamente amor.
Verso de prosa em branco, sem cor
Sem sentido, despido,
descabido, antigo,
doído, sofrido.
Descaradamente amor.
Na mentira humana
da existência da mente.


Por Carlos Fernando Rodrigues

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Ordem (Partes 1 e 2)

 Breve Ordenamento Geral

           De uma flor arrancada à um papel no chão ou um ser qualquer na escuridão. Subversões da Ordem natural das coisas e do mundo. Ao menos que tudo fosse natural, ou nada. Como podemos conceber uma ordem dentro de uma própria ordem se nossa imaginação é mera abstração? Senão seria a abstração apenas uma regra dessa ordenação. Fato é que a vida obedece e desobedece essa ordem natural, mesmo com toda a sua indignação.
            Imaginemos o que chamamos por natureza e que, geralmente, pontuamos como algo alheio a espécie humana. Plantas, animais, substâncias,vida. Todos coexistem em uma ordem de dependência e equilíbrio extremamente delicado, porém para eles, intransponível. É como se tudo se criasse em absoluta perfeição e comunhão. Como se o que lhes é nato fosse ausente de deficiência, e se ela existir, é automaticamente suprida. Chega a ser incompreensível em dados momentos. Mas seria isto compreensível aos olhos da razão humana? Ou seria a razão humana uma subversão da Ordem?
              Insistente e teimoso em sua capacidade cognitiva, o ser humano busca desde seu florescimento racional algumas respostas acerca deste assunto. São tão variadas as teorias e estudos, que muitos chegam a realmente acreditar nessas baboseiras desmesuradas. Porém não cabe a mim julgar em que o resto majoritário da humanidade crê ou deixa de crer, pensa ou deixa de pensar. Simplesmente dissertarei sobre alguns pontos que penso serem singelamente discutíveis e que, obviamente, também sejam interessantes. Portanto, se você não gosta, não quer, não se sente a vontade para ler questões e ladainhas prolixas de um ser descaradamente preguiçoso, pedante e, mesmo dessa forma, maravilhado com o mundo, o céu e o cérebro que possui, sugiro que pare sua inútil leitura por aqui, na parte 1. Ou seja, não siga a ordem… ou siga, se a ordem for a curiosidade, mas não me culpe pelo que vai ler…

Sobre a Ordem humana

            Que diriam os idealizadores, pensadores, professores e demais "dores"que deram suas brilhantes contribuições à nossa maravilhosa concepção de ordem social se vissem em que fomos capazes de as transformar? A verdade é que não diriam nada, pois já não são capazes disso e infelizmente seus pensamentos e abstrações podem estar servindo de desculpa para um intelectualzinho qualquer pautar as asneiras que diz no facebook ou em um bloguezinho qualquer (vide sobreedades.blogspot.com). A todo o tempo pensamos ser a mais absoluta representação destes ideais preponderantes, voluntariamente ou não.
            Assim acreditamos fundamentalmente que o ser humano foi e é capaz, durante toda sua história, de estabelecer a Ordem para todas as coisas, e através disso conseguimos estabelecer um padrão para essa totalidade. Seria dessa forma, o ser humano independente de natureza, divindade ou qualquer desígnio superior, pois seria o próprio capaz de criar, planejar, fundamentar e produzir por si só. 
            Há, contudo, o porém de que o ser humano não se criou, não se planejou, não se fundamentou e nem se produziu. Ele descende de uma variedade improvável de credos, estudos, ideias e matérias. É, portanto, irrelevante o que se produz entre os seres humanos para o Ordenamento Maior, uma vez que este é superior, porém, reciprocamente inexpressivo.

Por Carlos Fernando Rodrigues

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Carvoeiro (e um viva a mediocridade)

De risco no céu aflito, cai em chuva.
Arisco e veloz, no fogo da água, um pito.
Corre curisco acendendo o céu em curva.

Ponto incerto, por perto o trovão no chão.
Não faz mira, se atira em, agora, resto de carvão.
Era homem. Ou perto disso. Era escória.
Um pouco papel no bolso e muita história.
Era vivo. Já não é mais. É natureza.
Foi dela uma nobre presa. Dela acesa.

Chovia nele, ou nela, neles. Encharcava a alma.
Presa em paixão, embebido de rum, envasando o alcatrão.
Na chuva, se limpava. Se apagava. Se deixava.
Veio à vida ascender, mas ao acende-lo.
Um raio fugido, nem tão fúlgido, acompanhou-o.
Um caroneiro inerte, um carcereiro rebelde.

Libertou-o da prisão que era a vida, mórbida.
Vívido pela primeira vez, em luz, cheio de combustível,
pela sua fumaça tomado, agora seu corpo tinha uma razão.
Infalivelmente, agora, poderia ser um soberbo carvão.

Por Carlos Fernando Rodrigues

sábado, 18 de maio de 2013

Em fé

Fé, pois a fé é inerente.
Te-la, verdadeiramente crente.
Em fé, temos fé, não por nós,
mas fé apenas no após.

O momento sem fé, a pé,
andar em sua companhia.
Ser criados por homens de fé,
a balbuciar ditados sem bainha.
Rasgam verbos sofisticados,
do princípio, o Verbo desgastado.
Derrotado, o vício de querer crer,
achincalhado pelo homem em seu poder.

Fé no após, que se dane o momento.
Fé no momento, que se inflame o após.
Ter fé no momento é buscar o inferno.
Mas viver em fé, é encontra-lo de perto.

Não consigo ver no que crer.
Creio em pessoas, sem querer.
Creio em matéria, sem poder.
Ter fé seria, no futuro, em paraíso viver
ou na Terra do fruto apodrecer?
Acenda meu fogo, deixe minha chama arder.
Em minha humanidades, sem tais divindades,
posso e farei, do meu inferno, meu paraíso.

Por Carlos Fernando Rodrigues

terça-feira, 7 de maio de 2013

In formação

Uma parada para a vida, sem emoção,
sem querer saber de razão de capa surrada.
Espaço em branco novo, com cheiro de mofo.
Contemplando sonhos poucos, simples,
pela revolução de tolos em parágrafos ocos.

Desenhando em letras guerras de palavras, iguais e livres.
Velhas tipografias sem novas ideologias.
E essa  revolução, sentada lendo-se em crimes.
De interesse, nenhum, somente vigília.

Uma crônica quer aliviar o dia, quer até ser poesia.
Não seria hora de hipocrisia, pra quê quebrar a monotonia?
Mas para seu valor, o ócio nunca foi um bom negócio.
Ficou na apatia das notícias frias.

Frio era o resto de café, gritava a xícara.
Anunciava as migalhas de pão, jogadas no chão.
O papel continuou vazio, cheio de letrinhas,
prendeu quem o largou nas malditas entrelinhas.

Por Carlos Fernando Rodrigues

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Sobre nada

Como falar de nada sem antes falar de tudo? São conceitos antônimos que se completam, porém nunca são completos. Dentre todos, ninguém é capaz de explicar ao certo o que é tudo, e nada no mundo consegue me esclarecer o que é nada. Sempre há algo, e algo nunca é tudo. Portanto, tudo e nada se completam em incertezas de quem são: ambos conceitos sobre coisas inexistentes.
Segundo o dicionário, o nada é nada. Simplesmente aquilo que não existe. Ora, mas se é aquilo que não existe, é alguma coisa. Já o tudo seria a totalidade das coisas. Como se tem a totalidade de alguma coisa se para isso é necessário que aquilo que não existe esteja inserido? Tem um nada no meio de tudo. Tudo precisa de nada para existir, mas se ele tem nada, ele não tem tudo. É complexo... mas é só uma ideia.
Adentrando na ideia de nada, concluí que tudo não existe. Não que tudo seja falso, mas é que tudo nunca será tudo. Não adianta querer tudo, nem ter tudo, nem fazer tudo. O problema é: o tudo precisa do nada para existir, mas e o nada, precisa do tudo para existir? É necessário que tudo exista para termos a ideia de nada, mas a ideia é uma abstração da mente só nela existe. Seria o nada só isso?
O nada é para mim o tudo. Mesmo depois de afirmar que o tudo não existe. Se ele não existe, ele é nada, e se ele é nada, ele tem que ser preenchido. O nada, nada mais é do que uma ideia de tudo dotada de criatividade própria, pois do nada surgem as melhores ideias, e nele morrem. O nada é o que inspira o homem a criar, as coisas não se completam por si mesmas se a partir do nada, não houver ação. O nada é o cenário onde a vida flui em sua maior intensidade, mesmo que ele nunca se complete. Como aquele papel em branco que vai se colorindo, desenhando e o tamanho real da obra é inversamente proporcional ao número de lugares aos quais ela pode te levar. O nada é que faz o ser humano ser humano. Nada salva, nada cura, nada vive, e graças ao nada, ocupamos esses espaços que ele nos propicia. Em verdade então te digo, tudo não existe. Nada existe. E se você, assim como eu, chegou à essa conclusão, é que sua ocupação momentânea é como o tudo...

Por Carlos Fernando Rodrigues

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Errante

Como um apagar de luzes,
o fim de sete cores no horizonte.
Como o último eco do som,
uma ponte cheia de tons.

Por fim, enfim, o fim. Simples.
Assim, aqui,  apenas pra mim.
O ouro estava lá, e ficou, ficaram.
Levou história, de dois que o amaram.

Passou a morte por debaixo da ponte,
a menina parte, mas já se foi há tempos.
Passou a música pelo fim da tarde,
da igreja no monte, à sorte se desfaz no vento.

Onde estará? Meu coração já não diz mais.
Sem porto, fechou sua porta,
debaixo da ponte, antes de ter um outro cais.

Errante em tons de cor, antigos tons de amor.
Tons de música pelo ar, sem me ter pelo sonhar.
Ando agora só, voltei acanhado, mas sem nó.
Vivo o agora, feliz pelos mares engarrafados.

Por Carlos Fernando Rodrigues

sábado, 23 de março de 2013

Paralisação (para Agenor de Miranda Araújo Neto)


Bagunça ideológica em gavetas racionais
Emoções bestológicas de ditos animais.
Um partido de coração e um amor de dó.
Tem o dom de se confundir na hora do calor.

Quem é tolo de dizer que sua filosofia não é uma ideologia,
Ou seria mais bobo de dizer que ideologia não é paixão?
Cada um deixa seu rastro, se traço, amasso, estilhaço...

Digamos que em nós, animais, políticos excelentes
De natureza temos a natureza racional repelente.
Repelente de razão, na mão, triste repetido repente.

Dotados de razão amamos, por votos, vibramos.
Irracionais controlados, alienados nos encontramos.
Marcamos, no coração o que deveria ser razão.
Vivemos o coração vivo na razão.

Por Carlos Fernando Rodrigues.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Como se vê

Hoje o dia nasceu morno.
Sem ser frio e chuvoso,
nem quente de sol todo.
A neblina até no ar pairou,
mas por aqui não ficou.

O café foi ligeiro, sempre é,
mas nem mesmo foi café.
O pão foi intenso como beijo,
mas nem mesmo era de queijo.

A água correu, parecia um moinho.
Rodava a rotina de cidade feroz,
eu ali passava, sem pressa, caladinho.

O sol decidiu sair, revoltou-se e fez calor.
Um calor para nuvens cinzas de amor.

Se choveu não vi. Em meio a essa vida, preferi dormir.

Por Carlos Fernando Rodrigues

terça-feira, 19 de março de 2013

Canção da adaptação

"Minha terra tem palmeiras..."
Também favelas, ribeirões e matas
à beira de guetos, vielas, escadas e capelas.

Muito mais do que beleza, tem vida, 
algumas caudas presas. Tem céu azul.
Chega a ver-se moda cool. Mal mal,
você encontra um ou outro vagal.

A vida que aqui não pára
em outro ser já se retirara.
O mundo as vezes já passou, 
quem tinha que apenas amar,
talvez alguém já amou.

Acabou.
Já se foi "nossa velha canção...
Rock'n'Roll".

Por Carlos Fernando Rodrigues

terça-feira, 5 de março de 2013

Vive

Meia vida da minha vida,
minha vida ao meio.
Chegar a hora da partida,
é duro, é humano, é feio.

Vinte anos, menos dez, são dez.
Dez sozinho, sem meu amigo.
Nascido do mesmo umbigo,
irmão meu da cabeça aos pés.

Lá de longe, não sei onde você está,
mas sinto ainda sentir você no ar.
Psicológico ou emotivo, é lógico.
Espiritual ou mental, é mais vivo.

Não vejo como morte, palavra carregada.
Vejo como vida, palavra leve, linda.
A vida plena não é apenas física, nossa sorte.
Sua vida marca as nossas, é fantástica ainda.

Vive em mim, vive em tudo, vive em nós.
Cada besteira que foi coragem, cada após,
após você, o mundo não é o mesmo, enfim,
vive minha estrela, meu irmão, guia a mim.

Por Carlos Fernando Rodrigues, pro meu irmão João.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Lazuli

Antes fossem simples olhos raros,
ante mim pudessem ser claros.
Vida que flui, que segue, me cega.
Seu olhar me pega, inquieto, de perto.
Um sorriso completo, completa meu ego.

Seria natural ou seria uma conjunção astral?
Místico muito mais do que físico,
vejo ao fundo, afundo no seu mundo.

Sinto meu corpo falar, dizendo ao seu olhar:
Muito antes de te ver, te ter talvez,
já tive você por, um dia, alguma vez.

Em um infinito de uma temporada, uma ano.
Um não, muitos sim, mas nunca nós.
Atrás do lazuli um universo humano,
uma alma de menina, sem saber do após.

Por Carlos Fernando Rodrigues.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Romãs

Floresce lá onde o rio faz a curva,
longe o bastante pra bater saudade.
De tempos em tempos faço uma prece,
para encontrá-la longe de toda maldade.

Sentir teu cheiro, seu calor mais que uma flor.
Eu e ela, nós, sem ver o tempo passar.
Amigos, amigos...  também chamo amor.

Conhecer  melhor seria impossível,
mas é inerente ao compreensível.
Espelho de mim, sensível, cheia de manhas,
viro presa fácil nas suas discretas artimanhas.

Riso frouxo, solto no rosto que dá gosto.
Felicidade de sonhar e saber tirar meu ar.
Agora chega de verso minha manhosa,
é hora dos meus versos virarem prosa.

Por Carlos Fernando Rodrigues.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Menina

Quando meu ego
masculino, menino, fino
encontra martelo e prego,
moldo, pinto e assino.
quando encontra uma sina,
caio, vivo e beijo
a intensidade daquela menina.

Menina, que menina?
Que chega sem bater e
meu coração se anima.
Bate sem querer menina.

Menina menina,
vivo virado pra lua,
querendo ver de cima,
o sonho dessa aventura sua.

Menina, menina
se eu pudesse te sonhar
não soaria tão humano,
se sonhasse, nao seria sano.
Não seria voce menina


Por Carlos Fernando Rodrigues.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Flor de Cerejeira

Lá de longe, onde o mundo fica denso,
onde tudo fica tenso, e medo perde senso.
Terra distante, onde a vasta selva devasta.
O homem sem casta, perde seu brilho intenso.

No distante do horizonte, na beira do fronte,
urbanidade e cinza, quebradas na paisagem,
sem margem, a cidade, ao lado um monte.

Em minha terra montes tem cruzes, em cruzes,
sombrias videiras. Mas nesse monte de luzes,
brilha ao lado a cerejeira, flor de cerejeira, bela, rosa,
não rosa, nova, traz com o vento seu sabor à prova.

Longe do meu toque, contemplo, sem querer ver o tempo.
O tempo já me basta, sem ve-lo, sou homem, e penso:
Se com ele não posso correr, quero ultrapassa-lo e voar,
quero poder  crer, que a flor  da cerejeira vou lá provar.

Por Carlos Fernando Rodrigues