quarta-feira, 29 de maio de 2013

Carvoeiro (e um viva a mediocridade)

De risco no céu aflito, cai em chuva.
Arisco e veloz, no fogo da água, um pito.
Corre curisco acendendo o céu em curva.

Ponto incerto, por perto o trovão no chão.
Não faz mira, se atira em, agora, resto de carvão.
Era homem. Ou perto disso. Era escória.
Um pouco papel no bolso e muita história.
Era vivo. Já não é mais. É natureza.
Foi dela uma nobre presa. Dela acesa.

Chovia nele, ou nela, neles. Encharcava a alma.
Presa em paixão, embebido de rum, envasando o alcatrão.
Na chuva, se limpava. Se apagava. Se deixava.
Veio à vida ascender, mas ao acende-lo.
Um raio fugido, nem tão fúlgido, acompanhou-o.
Um caroneiro inerte, um carcereiro rebelde.

Libertou-o da prisão que era a vida, mórbida.
Vívido pela primeira vez, em luz, cheio de combustível,
pela sua fumaça tomado, agora seu corpo tinha uma razão.
Infalivelmente, agora, poderia ser um soberbo carvão.

Por Carlos Fernando Rodrigues

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