segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Cangaceiro e o Coronel – Parte 4 ( A guerra, a rodeio e a decepação)

            Após travarem batalhas ferrenhas, sujas e principalmente ideológicas ao longo de anos, o Cangaceiro finalmente escorraçara o Coronel da cidade, mas apesar disso, ele ainda dominava grande parte das Gerais e ainda mantinha seu velho e infame costume de “mamar nas tetas do estado”, sua grande mãe leiteira. Nova Lima agora vivia novos tempos, novas situações e principalmente, agora, tinha uma população ativa.
            O Cangaceiro governava para todos, suas ideologias se encaixavam perfeitamente no contexto político da cidade, e isso com certeza desagradou os soldadinhos chumbados do coronel que agora já não podiam mais submeter a população às suas vontades sórdidas. O Coronel, experiente, já sabia da dificuldade de certas pessoas daquela cidade em lhe dar com a boa vontade alheia e rapidamente tratou de agir em cima das alusões maquiavélicas dos que cercavam seu rival, tornando-o o centro de uma rede de intrigas e suposições meramente vis, mas que tinham o poderio de detonar as bases sociais e políticas de todo ser sociável: a Moral.
            O espírito de luta do Cangaceiro, que sempre foi melhor em suas relações sociais diretas do que o Coronel, estava agora a mercê dos interesses mesquinhos dos que seres que se julgavam humanos próximos a ele. Sua luz de esperança para a salvação do restante da dignidade em todo o município, agora era ofuscada pelo rodeio dos  coadjuvantes, o que acabou por jogá-lo em um labirinto de natureza bem conhecida, mas de consequências possivelmente infinitas, incluindo em questões externas, a necessária privacidade do homem para gerir sua vida por completo, fragilizando seu ideal de justiça, desapego e principalmente do clichê amor.
            Apesar da situação desfavorável, o Cangaceiro ainda era senhor do seu destino e tinha plenas forças para lutar e decidir se continuaria a conduzir a cidade rumo ao seu futuro de conquistas. A ilusão do rodeio então finalmente o cegou, e alguns pequenos espíritos,desses que se esgueiram no mundo dos homens para fingirem ser essa carcaça morta que lhes é dada, voaram em cima dele, como hienas em cima da carne morta, que agora era toda sua experiência vital em reflexo de suas fraquezas mortais. Ele ainda tinha a família, mas escolheu deixá-la, talvez por compaixão, ou talvez por vergonha. Ele ainda tinha seus talentos, mas resolveu que iria escondê-los, e assim transbordou seu lado pecador em seu desequilíbrio. A ideologia ficara subjugada, seus amigos já não eram sensíveis e o fim era iminente. Os abutres o bicavam e agora guiavam seus companheiros, sem rumo contra a muralha venenosa do Coronel. O Cangaceiro já não via a luz gloriosa do seu caminho e agora se tornava um velho que nem os velhos admiravam, um velho que não tinha mais do que a ingenuidade de uma criança em um mundo de animais. Agora, a sorte está lançada. O Cangaceiro definha, decepado, o Coronel se prepara para a maior das ofensivas antes de sua morte, os abutres e hienas fazem a festa e o povo, bom, esse voltou ao seu papel principal: o de espectador.

Por Carlos Fernando Rodrigues S.S.D.

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